OS MAIORES OBSTÁCULOS AO PROGRESSO

O orgulho e o egoísmo são os maiores obstáculos ao progresso. Refiro-me ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetua sempre. À primeira vista, parece mesmo que o progresso intelectual superexcita e reduplica a atividade dos vícios, desenvolvendo a ambição e o gosto das riquezas, que, a seu turno, incitam o homem a empreender pesquisas que lhe esclarecem o Espírito; Assim é que tudo se prende, no mundo moral, como no mundo físico, e que do próprio mal pode nascer o bem.

Curta, porém, é a duração desse estado de coisas, que mudará à proporção que o homem compreender melhor que, além da felicidade que o gozo dos bens terrenos proporciona, existe uma felicidade infinitamente maior e mais duradoura.

679Há duas espécies de progresso, que se prestam mútuo apoio, mas que não marcham lado a lado: o progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civilizados, o primeiro tem recebido todos os incentivos. Por isso mesmo atingiu um grau a que ainda não chegara antes da época atual. Muito falta para que o segundo se ache no mesmo nível. Entretanto, comparando-se os costumes sociais de hoje com os de alguns séculos atrás, só um cego negaria o progresso realizado.

De todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se, porque deriva da influência da matéria, influência da qual o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pôde libertar-se, e, para o que tudo concorre: suas leis, sua organização social, sua educação. Todo o aparato social do entretenimento humano é ainda  fundamentado, tão somente, sob o ponto de vista da vida material.

O egoísmo se enfraquecerá à medida que a vida moral for predominante sobre a vida material e, sobretudo, com a compreensão do vosso estado futuro, real e não desfigurado por ficções alegóricas.

Quando, bem compreendido e identificado com os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os hábitos, os usos e as relações sociais. Egoísmo é tudo o que exalta a importância da personalidade. Ora, o Espiritismo bem compreendido mostra as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece, de certo modo, diante da imensidade. Destruindo essa importância, ou, pelo menos, reduzindo-a às suas legítimas proporções, ele necessariamente combate o egoísmo.

O choque que o homem experimenta do egoísmo os outros é o que, frequentemente, o faz egoísta, porque sente a necessidade de colocar-se na defensiva. Notando que os outros pensam em si próprios e não nele, ei-lo levado a ocupar-se consigo, mais do que com os outros. Em face do atual extravasamento de egoísmo, grande virtude é necessária, para que alguém renuncie à sua personalidade em proveito dos outros, que, de ordinário, não lhe agradecem.

Quando a benevolência, a indulgência, o perdão e a fraternidade tornarem-se a base das instituições sociais, das relações legais de povo a povo e de homem a homem, cada um pensará menos em si mesmo, assim veja que os outros nele também pensam. Todos  experimentarão a influência moralizadora do exemplo e do contato.

Para os que possuem esse heroísmo virtuoso de sofrer o egoísmo e a indiferença dos outros – sem se tornarem igualmente egoístas – , é que o reino dos céus se acha aberto. A esses, sobretudo, é que está reservada a felicidade dos eleitos, pois em verdade vos digo que, no dia da justiça, todo aquele que não houver pensado senão em si mesmo será posto de lado e sofrerá o abandono.

(O Livro dos Espíritos, itens 785 e 917)

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