Os atos de abnegação, a caridade inteligentemente interpretada, que não malogra seus frutos, a cordialidade expressada na amizade leal e sincera, são outros tantos aspectos que ascendem ao divino, uma vez que ultrapassam o plano das manifestações habituais.
Aquele que suporta a dor e o sofrimento experimenta o doce benefício da resignação, ao mesmo tempo que engendra a paciência, neutralizando os impulsos do desespero. Além disso, quem já não pensou, nos momentos de dor ou de sofrimento agudo, em ser mais bondoso, generoso e tolerante com os demais?
Não foi e continua sendo a dor o que modifica e modera os temperamentos mais irrefreáveis, os caracteres mais incorrigíveis? Não é o padecimento o que se encarrega de fazer compreender e até corrigir os desastres morais que seus excessos provocam?
Em tais circunstâncias, o homem experimenta sua pequenez e absoluta fragilidade, já que sente que foi tomado por uma força superior a ele, da qual não pode se livrar sem antes pagar o tributo que a lei lhe exige por infração. Ao reconhecer que é dominado por uma força que desconhece, mas que chega a apalpar ao cair em desgraça, coloca sua razão no terreno do transcendente, o que lhe permite admitir que existem influências que, embora não sejam controladas pelo juízo, aparecem exercendo suas funções reguladoras, precisamente ali onde a razão não foi capaz de regular a tempo os excessos do ente humano.
(Livro “O Mecanismo da Vida Consciente”, de Carlos Bernardo González Pecotche)